terça-feira, 16 de agosto de 2011

Colapso moral

Aqueles que se veem como excluídos da sociedade não têm razão alguma para obedecer às suas normas.
Eis uma colocação trivial que qualquer habitante de metrópoles brasileiras aceitaria. Conhecemos bem tal situação social onde a exclusão e a falta de perspectiva gera a descrença (no melhor cenário) ou a violência (no pior) contra o império das normas sociais.
Muitos gostariam de chamar isso de "sociologismo vulgar", como se fosse questão de afirmar que onde há pauperização sempre haverá crime.
Talvez seja o caso de simplesmente dizer que a pauperização e o sentimento de ter sido deixado de lado pelo Estado gera, de maneira forte, a desagregação do laço social.
Quando não há nada que sirva de contrapeso a tal processo, é fácil começar a ver carros queimados, lojas quebradas e outros atos de vandalismo.
Nesse sentido, há algo de profundamente cômico em ouvir o premiê britânico, David Cameron, afirmar que a Inglaterra está vivendo um "colapso moral" e que devemos colocar os confrontos em Londres e em outras cidades na conta da ausência de valores como "espírito de equipe, decência, dever e disciplina".
Sim, as escolas e as famílias não ensinam mais esses grandes valores, mas, segundo o primeiro-ministro, em seu papel de último esteio moral da ilha, "desencorajam o trabalho" e fornecem "direitos sem responsabilidade". Por muito pouco, não fomos brindados com a ideia inovadora de que as altas taxas de desemprego eram fruto da "preguiça".
Alguém deveria ter dito a Cameron que ele não é exatamente um bom enunciador contra o colapso moral britânico, ainda mais depois de um de seus principais assessores ser pego envolvido no escândalo que expôs as relações incestuosas entre a política britânica e o magnata da mídia Rupert Murdoch.
Da mesma forma, quando seu governo destrói todo o resto de sistema público de educação e de assistência social após ter pago (com o beneplácito de seu partido) a conta de bancos responsáveis pela crise de 2008, há de se perguntar se o colapso moral vem da City ou de Tottenham.
Pelo menos Cameron mostrou o que o pensamento conservador pode nos oferecer hoje: ladainhas morais em vez de ações enérgicas contra os verdadeiros arruaceiros, ou seja, esses que operam no sistema financeiro internacional.
Enquanto isso não ocorrer, jovens roubando lojas de iPads e tênis continuarão dizendo: não aceitaremos estar fora do universo de consumo e sucesso individual que vocês mesmos inventaram. Nós entraremos nele, nem que seja saqueando.
Por isso, antes de cobrar responsabilidades de setores desfavorecidos da população, Cameron deve parar de tentar escapar de suas próprias.
VLADIMIR SAFATLE

2 comentários:

  1. Aqui revela-se a cara-de-pau ao extremo de um jornalista, pois aqueles que "operam no sistema financeiro internacional" injetam dinheiro em jornais como a própria Folha de S. Paulo para que estes falem mal de políticos conservadores como Cameron o tempo todo. Vladimir Safatle infelizmente não expõe que Folha de S. Paulo, New York Times, Wall Street Journal, BBC News London, o Le Monde etc. (além das ONG's de agenda estritamente anti-conservadora e anti-cristã como a Avaaz) são parceiros amicíssimos daqueles mesmos investidores e magnatas.

    E se há alguma exclusão social perpetrada sobre as populações, é a da falta da informação correta, oriunda de fontes respeitáveis. Esta é a verdadeira exclusão social: manter o povo no escuro.

    "Exclusão informacional, no contexto da exclusão social, é o acto de restringir o acesso de determinados grupos de pessoas a bens imateriais ou ao conhecimento." ("Exclusão Informacional", Wikipedia)

    Muito verniz para Vladimir Safatle!

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  2. Uma observação adicional que escapou ao autor. O Estado britânico há muito viciou seu povo na dependência do assistencialismo social e na farsa midiática institucionalizada na BBC de hoje. Trata-se, de fato, da mesmíssima coisa que ocorrera na Suécia, mas numa escala mais branda. O povo inglês perdeu a iniciativa própria e agora está abduzido e infantilizado. O caráter do inglês médio dos atuais tempos oscila entre o típico bobalhão liberal-socialista politicamente correto e a besta Hooligan.

    David Cameron apenas colhe os frutos plantados pelos seus antecessores socialistas.

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